25 de enero de 2022

Ciclo de Deloyala cruciata

Quando a primavera começa, as Ipomoeas do meu jardim rebrotam e fazem reaparecer os besouros-tartaruga que se alimentam de suas folhas. Um deles é o belíssimo Deloyala cruciata. Espécie da qual não achei muita informação. Eu creio que, por se tratar de uma espécie com pouca ou nenhuma importância econômica, sua biologia tenha sido negligenciada.

A escassez de informações despertou minha curiosidade e eu decidi que queria acompanhar um ciclo completo da espécie. Examinei minuciosamente as folhas de Ipomoea e encontrei dois besouros. Torci muito para que fosse um casal. Deixei disponível para eles, quatro espécies de Ipomea: I. cairica, I. nil, I. triloba e I. hederifolia. Eles se alimentaram de todas, porém mostraram alguma preferencia pela I. triloba e I. hederifolia.

Ao primeiro olhar, não dá para perceber qualquer dimorfismo entre o macho e a fêmea. Mas, quando colocados lado-a-lado, notamos que a fêmea é um pouco maior e tem a mancha castanha mais escura que o macho. Ele, menor e com a mancha escura mais viva, avermelhada.

Logo que os coloquei juntos, deram início aos rituais reprodutivos. Observei que passavam muito tempo unidos pela parte posterior do corpo e, de tempos em tempos, o macho subia na fêmea para copular, pouco tempo depois retornava à posição inicial. Eles copularam várias vezes durante vários dias seguidos.

As paredes do "cativeiro" eram translucidas e, com isso, consegui observar a cópula e notei que as paredes abdominais da fêmea eram transparentes e revelavam, em seu interior, algumas estruturas esbranquiçadas e ovaladas. Imaginei que fossem ovos (spoiler: eram mesmo os ovos!).

Dias depois, inspecionei o recipiente onde os besouros estavam alojados e cada uma das folhas que estava ali. Consegui encontrar 5 ovos: estruturas ovaladas, levemente esverdeadas e cobertas por algum tipo de cera com frisos. Alguns ela colocou em folhas, outros na parede do recipiente. Eu os recolhi com cuidado e coloquei em um recipiente menor. Libertei o casalzinho depois de recolher os ovos.

Dos 5 ovos, 4 eclodiram, uma larva morreu antes de entrar no segundo instar e as duas restantes completaram o ciclo.

Alimentei as larvas somente com Ipomoea cairica e Ipomoea triloba. Consegui observar 4 instares larvais. A cada muda, a larva mantém a exúvia do instar anterior anexada ao corpo juntamente com filamentos fecais, assim como outras espécies de besouros-tartaruga. Quando estão prestes a empupar, os filamentos fecais caem e fica apenas a "coluna" central formada pelas exúvias antigas.

A pupa é completamente verde. Quando o momento do besouro adulto emergir se aproxima, os olhos e a mandíbula escurecem. E, poucas horas antes de sair da pupa, as pontas das antenas também escurecem.

Quando o besouro adulto emerge, ele é completamente verde. Não possui a marca castanha característica. Essa só aparece algumas horas depois. O ciclo, de ovo a adulto, durou aproximadamente 1 mês e meio.

Fotos do ciclo completo em: https://www.insetologia.com.br/2022/01/ciclo-completo-de-besouros-tartaruga.html
Fotos de um ciclo parcial (mostra o adulto teneral) em: https://www.insetologia.com.br/2021/12/ciclo-de-besouro-tartaruga-deloyala-em.html

Publicado el enero 25, 2022 08:17 TARDE por tamiranda tamiranda | 2 observaciones | 0 comentarios | Deja un comentario

09 de febrero de 2021

Lasaia agesilas

Há alguns anos, presenteei minha mãe com uma muda de Dedaleiro (Lafoensia pacari), uma árvore nativa do cerrado e que pertence à família 'Lythraceae'. Ela plantou a muda no quintal e, vez ou outra, quando visito minha mãe, o Dedaleiro me presenteia com a presença de algum inseto interessante entre suas folhas.
Dessa vez, foi uma lindíssima lagarta! Eu consegui encontrá-la depois de perceber algumas folhas comidas e presença de fezes nas folhas mais baixas. Procurei, procurei muito, mas não encontrei logo de cara. Voltei à noite com uma lanterna e flagrei a comilona: a lagarta esverdeada, meio achatada, glabra no dorso e com cerdas ásperas contornando seu corpo. Cerdas essas, que apesar de intimidadoras, não eram urticantes.
Eu nunca havia encontrado uma lagarta semelhante a essa. Não consegui sequer imaginar a qual família a bichinha pertencia. Então, enviei as fotos para o Cesar, do www.insetologia.com.br que me deu o palpite de ser uma 'Lasiocampidae'.
Passei a acompanhar o desenvolvimento da lagarta. Eis que um dia, notei que a bichinha havia se enrolado com um anel no graveto onde estava repousando. Uma pena que não tirei fotos pois, pouco depois, ela empupou.
A pupa era muito interessante, diga-se de passagem. Ela denunciou que não se tratava de uma mariposa, mas sim de uma borboleta. Era pequena, movia-se discretamente quando perturbada e, se não estivesse sob constante observação, certeza que teria passado despercebida aos meus olhos. Sua camuflagem, impressionante, faz com que se assemelhe a um galho fino quebrado e recoberto por um pouco de líquen.
Os dias se passaram e, algumas semanas depois, saiu dali uma pequena e irriquieta borboleta que identifiquei como pertencendo à família 'Riodinidae'. Ela era escura e com alguma iridescência na parte superior das asas. Na parte inferior, era clara com pontos pretos. Tão rápida e astuta que quase me escapou sem que eu conseguisse uma foto qualquer.
Procurando por sua identidade, cheguei em 'Lasaia agesilas', uma fêmea! O macho seria facilmente reconhecido pelo hipnotizante tom azul de suas asas, mas a fêmea, muito mais discreta, conta com poucos registros espalhados por aí.
E, só para variar, assim como boa parte dos animais que não são de interesse econômico ou em saúde, há pouquíssima informação sobre essa espécie, o que já me deixa grata em poder contribuir um pouco mais com o que sabemos sobre a 'Lasaia agesilas'.

Publicado el febrero 9, 2021 05:25 TARDE por tamiranda tamiranda

01 de enero de 2021

Ciclo de Chelonarium signatum

Em março de 2020, fotografei um cupim (identificado aqui no Inat como Heterotermes sp.) que estava sob a casca de um tronco de mangueira (Mangifera indica) que iniciava seu processo de decomposição. Para minha supresa, quando passei a foto da câmera para o computador e pude ver a imagem ampliada, percebi que havia outra criatura ali, próxima.
Fiz o upload da imagem aqui e também enviei para o site Insetologia (www.insetologia.com.br). Encontrei essa criaturinha outras vezes e, por não perceber suas perninhas, acabei deixando que escapassem. Elas sempre estavam na madeira, muitas vezes próximas de outros animais: milipedes, formigas, cupins, lagartas broqueadoras...até que, finalmente, consegui encontrar 3 delas e, juntamente com um pedaço de madeira, coloquei em um recipiente plástico e vedei com tecido e elástico.
Durante o tempo em que acompanhei, percebi que se alimentavam da madeira e que tendiam a se esconder em lugares escuros.
Sua anatomia e coloração proporcionam uma camuflagem espetacular, e, muitas vezes quando procurava por eles no pote para Quando manipulados, permaneciam imóveis e em formato de "vírgula", sem serem perturbados, permanecem esticados.
Sua identidade foi um mistério até abril, quando o Cesar, do Insetologia, encontrou um poster (: https://homepages.uni-tuebi...) com o desenho de uma larva semelhante e identificado como Chelonarium! Viva!
Me lembrei que na primavera e verão anteriores, havia visto muitos Chelonarium signatum e também Chelonarium ornatum. Identidade encontrada, agora era preciso segurar a ansiedade para acompanhar o restante do ciclo.
Em outubro, uma das larvas empupou, mas infelizmente, não completou o ciclo. Poucos dias depois, outra larva empupou e, essa sim, completou o ciclo, revelando ser Chelonarium ornatum. A terceira larva não chegou a empupar. Nesse mesmo período, encontrei vários adultos do mesmo gênero, inclusive acasalando (espero encontrar mais larvas em 2021!). A larva que acompanhei, completou o ciclo em novembro.
Para ver o ciclo, acesse: https://www.insetologia.com.br/2020/03/criatura-termitofila-em-minas-gerais.html

Publicado el enero 1, 2021 09:52 TARDE por tamiranda tamiranda | 0 comentarios | Deja un comentario

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